Resumo da Reunião Clínica
 

Em 2001, M., portadora de hipertireoidismo se submeteu a uma tireoidectomia parcial para a retirada de nódulos na glândula tireóide. Esta internação teve dois momentos diferentes: inicialmente a paciente não se mostrou disposta a conversar com a terapeuta, comportamento que mudou depois dela sofrer um pico hipertensivo ao ser levada para o centro cirúrgico. Lá M. teve também a sensação de morte iminente e a cirurgia precisou ser adiada. Ao começar a conversar com a terapeuta ficou evidente que M. vivia um impasse em seu casamento. Após a alta e estabilização da função tireoidiana através de medicamentos, ela foi encaminhada para um ambulatório de endocrinologia perto de sua casa e deu continuidade ao tratamento psicológico em regime ambulatorial. Alguns meses depois, M. mudou-se para outro estado, mas voltou a procurar sua terapeuta em 2010. Havia retomado seus estudos e a mudança ajudou a resolver o impasse conjugal; o filho mais velho já estava casado e sua filha estava prestes a casar. Fez um breve acompanhamento psicológico, apresentado na reunião de 13.05.2010, no qual conseguiu revelar ter tido um relacionamento amoroso com um primo quando ainda adolescente, do qual muito se envergonhava e que a deixou com uma repulsa ao sexo. Sentia-se vítima de um ato de violência sexual e recebeu muito mal a intervenção da terapeuta que revelou a presença do desejo erótico da paciente na situação, desmontando a idéia de violência sexual. Em 2011 voltou a procurar sua terapeuta em uma vinda ao RJ e teve mais uma consulta, na qual mostrou estar aceitando um pouco melhor a existência de seus desejos eróticos e sentindo menos repulsa ao sexo.

Na discussão foi ressaltado que através desse caso pode-se acompanhar o sempre longo processo de elaboração de uma experiência traumática e o papel do vínculo terapêutico na construção do espaço de segurança necessário para o estabelecimento do referido processo.