Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher negra, filha de um casamento inter-racial, com pouco mais de cinquenta anos, separada e mãe de um filho adolescente, portadora de lesão do plexo braquial desde o nascimento, foi encaminhada por seu médico assistente para tratamento na Psicologia Médica por estar deprimida. Compareceu à primeira entrevista vestida de maneira bastante simples, com os cabelos mal cuidados e penteados de uma maneira não usual. Seu andar era lento e com um dos braços permanentemente dobrado junto ao corpo. A aparência geral era estranha e maltratada. Além disso, falava com a cabeça permanentemente abaixada e com a voz quase inaudível, dando a impressão de grande timidez. Nessa entrevista relatou a origem da sua lesão, ocorrida logo após seu nascimento por desatenção de uma enfermeira, que não notou a posição que seu braço estava era inadequada, e expressou sentir-se constantemente envergonhada e facilmente humilhada por causa do defeito que tem no braço, embora a terapeuta não observasse nenhuma atrofia ou deformidade no referido braço. Sua aparência e sua maneira de falar estavam muito melhor no segundo atendimento, no qual mostrou-se bem arrumada e desembaraçada para falar. Com muita clareza detalhou o quanto se sentia desprezada desde o nascimento por sua mãe por ter nascido negra como o pai. Interrompeu o atendimento poucas consultas depois alegando ter que cuidar da mãe e do filho.

O primeiro ponto ressaltado na discussão do caso foi a inadequação entre a sintomatologia e a lesão relatada pela paciente: além de não apresentar as sequelas comuns nesse tipo de lesão, a sintomatologia envolvendo a marcha era excessiva, tudo dando a impressão de que a paciente criara uma imagem corporal muito mais lesada do que a realidade de sua lesão. Além disso, o relato sobre a circunstância pouco comum em que se deu o aparecimento depois do nascimento desse tipo de lesão, atribuída pela mãe à enfermagem, levantou a suspeita de estar aí envolvida uma projeção da culpa materna, seja por ter causado a lesão da filha ou por rejeitar a filha lesada. Seguindo essa linha, discutiu-se qual seria a lesão mental que a paciente apresentava e que havia se superposto à lesão física e foi consensual que provavelmente seria uma lesão diádica, uma falha básica. A reunião foi encerrada com a discussão sobre os possíveis motivos inconscientes que levaram a paciente a interromper o tratamento apesar dos sinais de melhora em seu estado de humor revelados através da melhora em sua aparência.