Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de pouco mais de 40 anos, solteira e sem filhos, foi internada devido a uma cefaléia intensa e persistente. Os exames evidenciaram um meningioma localizado próximo ao bulbo cerebral e a paciente começou a ser preparada para a cirurgia, que foi realizada com sucesso deixando a paciente bem e sem sequelas neurológicas. Nos atendimentos (3) feitos pelo membro da equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria, a paciente contou que casou após muitos anos de namoro, mas separou-se pouco depois, ao descobrir que o marido mantinha relacionamentos extraconjugais. Na época estava grávida de poucos meses e sofreu um aborto espontâneo. Nunca mais se interessou em fazer família. Há pouco mais de um ano uma das irmãs da paciente morreu de câncer. A paciente mostrou-se sempre atenciosa, educada, simpática e aparentemente interessada nos atendimentos, mas manteve sua psicóloga sempre a uma certa distância. Repetiu várias vezes que era uma pessoa querida por todos e por várias vezes lembrou-se da irmã recém falecida. Também não mostrou nenhum interesse em dar continuidade aos atendimentos após a alta.

Na discussão foi assinalado o duplo objetivo da Psicologia Médica neste caso, um imediato, na enfermaria, e outro mediato, de cunho preventivo, em regime ambulatorial.
A discussão foi iniciada salientou-se que a diminuição da ansiedade pré-operatória relacionada com o medo de morrer na cirurgia foi realizada com sucesso. Em seguida, discutindo-se os aspectos psicodinâmicos da paciente relacionados com o sentimento crônico e fortemente negado de não ser uma pessoa querida, evidenciado tanto pela necessidade dela afirmar o contrário quanto pela vida solitária que ela leva, foi ressaltada a importância do acompanhamento ambulatorial para se evitar que a persistência dessa dinâmica inconsciente leve ao desenvolvimento de um desejo de morrer jovem, como a irmã, dentro de um quadro depressivo que, interferindo no sistema imunológico, poderia favorecer a reincidência da doença.