Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase 40 anos, portadora de AIDS, foi internada com um quadro de intenso emagrecimento há 3 meses e acompanhado mais recentemente por diarréia e desidratação. Seu aspecto era desvitalizado e seu estado de espírito, de desânimo e desesperança. Pouco disposta a interagir com a equipe da enfermaria, seu comportamento foi, inicialmente, arredio. Informou ter sido contaminada pelo marido, que mantinha uma vida sexual extraconjugal promíscua. Separou-se ao saber-se infectada e afastou-se completamente do marido e dos filhos daquela união. Afastou-se também do pai e dos irmãos (a mãe já era falecida) e chegou a planejar uma maneira de se matar. Há pouco mais de 5 anos vive maritalmente com um companheiro, que é violento e a maltrata, chegando a deixá-la trancada em casa para que ninguém pudesse vê-la no estado em que estava porque, mesmo diante da piora do estado geral dela, para ele ela não estava doente, querendo apenas chamar a atenção dele. Isso e também outras coisas fizeram com que a paciente desenvolvesse suspeitas de que seu companheiro deseja a morte dela para ficar com a casa, que é dela.
A paciente foi trazida ao hospital por uma vizinha sem o conhecimento do companheiro, que não permitiria (sic).  A melhora do estado geral da paciente foi acompanhada da melhora do estado de ânimo, mas surpreendentemente a paciente passou a negar sua doença e a repetir frases anteriormente atribuídas ao companheiro. Na véspera da alta, a paciente mencionou ter “aprontado” na juventude, mas recusou-se a dar maiores detalhes. Ela saiu de alta sem nenhum interesse em dar continuidade à terapia.

A discussão girou em torno do papel do vínculo terapêutico, do objetivo da Psicologia Médica e dos limites do tratamento desta paciente, principalmente em relação à abordagem da violência presente em seu relato, tanto a violência do companheiro, da qual a paciente parecia não saber se defender, como a violência dela própria, projetada no companheiro com quem posteriormente mostrou se identificar, e que também podia ser inferida a partir das idéias suicidas, do abandono dos filhos e do relato que “aprontou” muito na juventude.