Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de pouco mais de 50 anos, casada há mais de 30 anos, filhos e netos, foi internada após sofrer queda ao levantar-se em casa. Informou que vinha sentindo dores nas pernas há alguns meses, principalmente ao andar e, depois da queda, notou uma diminuição dos movimentos dos membros inferiores. Apresentava um semblante abatido e, imobilizada no leito, mostrava-se muito incomodada com a internação que a obrigara a se afastar de casa, onde sentia sua presença imprescindível devido a problemas relacionados com a criação dos netos.
A paciente cria esses netos porque tanto o pai, seu filho, quanto a ex-esposa alegam não ter condições de fazê-lo: seu filho diz que a atual mulher não quer criar os filhos de outra mulher e a ex-esposa se queixa de falta de condições financeiras para criar os filhos. Além disso, a paciente tenta ao máximo evitar a aproximação da ex-nora por suspeitar que ela se tornou garota de programa. Durante a internação irritou-se profundamente quando soube pelo marido que este recebeu a ex-nora em casa na sua ausência.
Os exames complementares evidenciaram uma leve compressão da medula cervical não compatível com a intensidade das queixas e dos sintomas da paciente. Após quase 1 mês de internação a equipe decidiu que não havia indicação cirúrgica e foi iniciado tratamento clínico com boa e imediata resposta da paciente, que continua internada.

O caso foi considerado exemplar para o papel da Psicologia Médica na elaboração do diagnóstico diferencial entre patologias orgânicas e patologias funcionais por tratar-se de uma mulher cuja diminuição da feminilidade (menopausa + possíveis questões históricas) desencadeou intensos sentimentos de ameaça de perder o marido, os quais se acoplaram a uma patologia orgânica pré-existente gerando uma sintomatologia não compatível com a lesão.