Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase sessenta anos, de cor negra e origem bastante pobre, casada e mãe de quatro filhos, reinternou-se para a quinta cirurgia de um tumor benigno de hipófise surgido há dez anos e descoberto ao pesquisar a etiologia da amenorréia que apresentava na época. Enfrentando seu grande medo de ficar com alguma sequela neurológica, submeteu-se à primeira cirurgia e ficou assintomática por três anos, quando começou a apresentar perda da acuidade visual e dor de cabeça. Desde então o problema oftalmológico vem se agravando, apesar das cirurgias a que se submete. Em sua última internação, a perda visual já havia atingido totalmente um dos olhos e estava bastante acentuada no outro. A paciente estava irritada com sua situação e recusando ajuda de todos, até do marido e da enfermagem, chegando a criar um clima de conflito com a equipe da enfermaria. Ela parecia não se conformar com o fato de sua doença ter aparecido justamente quando sua vida havia melhorado, pois precisou parar de trabalhar quando seus filhos nasceram e o salário do marido não sendo suficiente para o sustento da família chegaram a passar fome. Depois, o marido começou a beber tornando-se agressivo, perdeu o pai, a mãe e um irmão e conseguiu superar todos esses eventos. O marido não bebe há vários anos, frequentam juntos uma Igreja e conseguiram melhorar de vida. A paciente continua internada aguardando a cirurgia.

 

Discutiu-se, inicialmente, a necessidade da realização de interconsultas para a devida orientação da equipe de enfermagem quanto à realidade psicológica da paciente. A partir da observação de que neste caso, assim como em muitos outros, a doença surgiu no melhor momento de vida da paciente, o tema do momento do surgimento das doenças foi abordado. Foi ressaltado que toda doença decorre de uma crise da organização adaptativa da pessoa, nisso incluído o conjunto formado pelo funcionamento orgânico, o funcionamento psicológico e o ambiente, e que a falência adaptativa pode ocorrer também nos bons momentos. Existem vários exemplos: a pessoa que enfarta ao ser premiada, a pessoa que se desorganiza mentalmente ao conseguir alcançar um posto ou cargo melhor etc. Portanto, às vezes e para algumas pessoas, foi observado que o bem pode fazer mal

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