Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase trinta anos, bastante emagrecida, casada e com uma filha de oito anos, foi encaminhada para tratamento ambulatorial com o diagnóstico de anorexia nervosa e história de dois tratamentos psicológicos realizados anteriormente sem sucesso. Há oito anos, grávida de três meses em sua primeira gestação, recebeu o diagnóstico de que seu bebê era anencéfalo. Legalmente obrigada a levar a termo a gestação, após o parto não conseguiu ver sua filha e nem ir ao enterro. Perdeu o interesse pela vida e começou a emagrecer. Um ano depois, deu a luz a uma menina da qual precisou separar-se por oito meses, quando o bebê estava com três meses, porque havia contraído tuberculose pulmonar.
Filha de pai alcoólatra e violento, em sua infância ajudou a mãe a não ser estuprada pelo pai várias vezes, o que sempre resultava em surras. Aos doze anos passou a frequentar a mesma congregação religiosa da mãe e envolveu-se com o pastor. Foi obrigada a mudar de congregação, mas sua mãe nela permaneceu, inclusive “perdoando” o pastor. Poucos anos depois de casada passou a se dedicar a sua Igreja, trabalhando como secretária do pastor e a situação de envolvimento acabou se repetindo, desta vez na forma de uma intensa e muito próxima amizade, despertando ciúmes na esposa do pastor e em seu marido. Com o afastamento do pastor a perda do apetite voltou a se intensificar.

Na discussão do caso, abordou-se, inicialmente, o comprometimento do desenvolvimento da sexualidade da paciente, que confirma a conhecida relação existente entre a anorexia nervosa e problemas no desenvolvimento psicossexual. Em seguida, foi discutida a situação traumática, dificilmente elaborável pela paciente, ocorrida logo no início de sua vida conjugal e o papel defensivo que para ela tem seu erotismo exacerbado. Finalmente, discutiu-se a importância do cuidado na condução do tratamento desta paciente em virtude da intensa depressão mascarada pelo erotismo.

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