Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase cinquenta anos procurou o ambulatório de Clínica Médica com queixas de cansaço, dor no peito e ansiedade. Como os exames não revelaram nenhuma patologia orgânica, ela foi encaminhada para o ambulatório de Psicologia Médica onde iniciou acompanhamento psicoterápico semanal. De aparência bem cuidada, mas de feições muito tensas, contou que é a segunda de uma prole de nove filhos, mas apenas ela e uma irmã estão se revezando no acompanhamento do pai, que está internado, já há duas semanas na época, vítima de um acidente vascular cerebral. Além disso, é mãe de sete filhos, o primeiro aos 15 anos e aos vinte já tinha três filhos com seu primeiro marido, trabalha em dois empregos para sustentar a família, mora longe de tudo e em local de muito poucos recursos, em uma casa pequena onde todos dormem no mesmo cômodo e desde que reatou com seu segundo marido as brigas, os maus tratos e as agressões físicas e verbais voltaram. O tema das consultas tem sido, invariavelmente, a insatisfação com sua vida e sua vontade de dar novo rumo a ela. A paciente vem evoluindo muito bem, suas feições já não estão tensas e ela vem conseguido modificar suas relações, não se sentido mais tão sobrecarregada e maltratada como antes em apenas dois meses de tratamento.

O caso apresentado suscitou a discussão sobre a relação entre adoecimento e crise existencial porquanto, no caso em questão, é notório que paciente procurou tratamento com sinais evidentes de sobrecarga emocional com sintomatologia decorrente de estresse orgânico e social prolongado. Parece que o adoecimento e a possível perda do pai desencadearam uma revisão existencial que, nas condições de vida da paciente, ultrapassou a capacidade dela lidar com a situação. A simples abertura de um espaço de elaboração foi suficiente para diminuir tanto o estresse orgânico quanto o sofrimento mental, possibilitando o surgimento de soluções criativas para a situação de vida da paciente.

retorna