Resumo da Reunião Clínica
 

Uma mulher de vinte anos foi internada para diagnóstico e tratamento de cefaléia persistente no lado esquerdo da cabeça, dor no olho esquerdo e nos membros superiores e inferiores. Recebeu alta com o diagnóstico de enxaqueca e orientação para acompanhamento ambulatorial, clínico e psicológico. Recebeu alta três dias depois, após a tomografia afastar qualquer doença cerebral. Ao iniciar o acompanhamento psicoterápico contou que não conheceu seu pai, falecido antes do seu nascimento, e que suas dores começaram meses depois da morte de sua mãe, ocorrida há aproximadamente dois anos após um longo tratamento de câncer. Disse que na época ficou revoltada com Deus, pois em sua igreja lhe disseram que Deus havia prometido salvar sua mãe. Hoje está aceitando um pouco melhor a mudança dos planos de Deus (sic), mas diz que nunca vai esquecer a morte da mãe. Dizendo-se uma pessoa difícil, não entendida por ninguém e com dificuldades em se relacionar e namorar, atualmente tem se debatido com o medo de “se descobrir” lésbica. A paciente continua em tratamento ambulatorial.

A discussão foi iniciada pela abordagem dos aspectos psicodinâmicos da paciente: um caso de estresse crônico por insuficiência de vínculos primários, A perda não elaborada da mãe engendrou uma identificação geradora de instabilidade na identidade de gênero e uma reativação da perda do pai, razão da raiva de Deus, um deslocamento da figura paterna. Por outro lado, o estresse crônico teve como locus minoris resistantiae (expressão empregada por Alfred Adler para designar o órgão, sistema ou região corporal onde as fragilidades orgânicas se expressam) os vasos sanguíneos cerebrais, origem da enxaqueca da paciente. Em seguida, discutiu-se quais seriam os objetivos da Psicologia Médica no tratamento ambulatorial desta paciente e a estratégia clínica adequada para alcançar esses objetivos.

retorna