Resumo da Reunião Clínica
 

Um homem de pouco mais de cinqüenta anos, casado, emagrecido e com feições abatidas, portador de enfisema pulmonar, foi internado devido a quadro de dispnéia iniciado após ter sido expulso da sua própria casa por marginais que a invadiram e ameaçaram de morte a ele e a seus familiares por ter parentes policiais. Seu acompanhamento pela Psicologia Médica foi solicitado pela equipe da enfermaria por acharem que ele ainda não havia aderido ao tratamento. Durante as consultas com o membro da equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria contou que começou a passar mal do coração (sic) no início do ano, depois que um dos seus irmãos foi morto por outro irmão. Piorou com a invasão da sua casa e resolveu internar-se. Contou que seu pai era militar e que ficou violento ao voltar da guerra; quando nervoso o pai atirava nos filhos, tendo atingido a dois nos pés. Ele e outros irmãos trabalham com segurança, pública e particular. Nos primeiros dias de internação quase recebeu alta administrativa a partir de um problema havido com sua sonda vesical porque a equipe suspeitou que ele estivesse atrapalhando o tratamento manipulando indevidamente a sonda. Mesmo com o esclarecimento do incidente, o paciente saiu de alta abruptamente poucos dias depois.

Discutiu-se, inicialmente, como o estresse desencadeado pelas situações de violência familiar pode ter funcionado como elemento patogênico neste caso, pois é sabido que situações de vida mal elaboradas, portanto traumáticas, podem funcionar como agente estressor e desencadear falências adaptativas devido à existência de vulnerabilidades orgânicas, congênitas ou adquiridas. Aprofundando-se a discussão sobre os antecedentes traumáticos históricos de violência familiar, questionou-se a possibilidade do mecanismo de defesa conhecido como identificação com o agressor ter contribuído para que os filhos tenham se tornado pessoas sempre envolvidas em situações de violência, até no trabalho. Finalmente, foi indagado se o quadro de estresse pós-traumático do paciente seria a prioridade do atendimento da Psicologia Médica neste caso. Considerando-se que o atendimento foi solicitado pela equipe porque o paciente não estaria aderido ao tratamento e considerando-se que a alta repentina e precoce do paciente sugere a existência de dificuldades da equipe para com o paciente, a prioridade seria a melhora da relação entre a equipe e o paciente.

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