Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher jovem, de quase vinte anos, foi internada com um quadro de pênfigo foliáceo iniciado há aproximadamente dez meses. Nas primeiras semanas de sua internação um enfermeiro teve uma conduta inapropriada com algumas pacientes e graças ao empenho e à determinação da paciente em questão ele acabou sendo demitido. Com lesões predominantemente nas coxas, costas, braços e face, seu estado foi melhorando lenta e gradativamente. Mas, chegando perto de ter alta sofreu uma piora repentina e grave devido à infecção secundária das feridas que estavam cicatrizando. O pai da paciente se desesperou com a piora da filha, ameaçou e ofendeu a equipe médica e chegou a invadir a sala de reuniões quebrando a porta. Ele foi atendido pela Psicologia Médica por duas vezes. A paciente solicitou, e a equipe médica apoiou, a interrupção dos atendimentos psicológicos, o qual foram retomados duas semanas depois. Nesta segunda fase, contou como a doença interferiu e atingiu sua vaidade feminina impedindo-a de se embelezar e de usar suas roupas, obrigando-a a cortar seu longo cabelo e a usar uma indumentária mais fechada como calças compridas e blusas fechadas e de manga. A paciente voltou a melhorar e saiu de alta para acompanhamento ambulatorial, médico e psicológico.

Em se tratando de um caso típico de síndrome de alta, discutiu-se a dinâmica mental engendrada pela proximidade da alta. Como evidenciado pela própria paciente, a doença teve para ela o significado de um bloqueio no exercício de sua sedução e, nesse sentido, ficar boa significaria voltar exercê-la e voltar para casa significaria voltar a exercê-la com o pai. Aventou-se a hipótese da paciente ter sido vítima de abuso sexual na infância devido ao estresse e a conseqüente queda repentina da imunidade da paciente desencadeado pelo retorno para casa e à reação excessiva e exagerada do pai para com a filha.

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