Resumo de Reunião Clínica
 

Um homem de trinta anos, solteiro, vivendo ora em abrigo público ora em via pública, foi internado por ser portador de AIDS, estar muito emagrecido, com pneumonia e tuberculose pulmonar. Embora de origem humilde e com baixo nível de escolaridade, o paciente fazia questão de falar com esmero e de se mostrar uma pessoa culta. Não foram poucas as vezes que se utilizou de frases de autores nacionais e internacionais para expressar seus pontos de vista. Além de elogiar e enaltecer todas as pessoas, se esforçava para conter suas emoções, especialmente as de cunho agressivo, e quando não conseguia, sentia-se bastante mal e se criticava exageradamente. Contou que saiu de casa com dezessete anos para não brigar com um irmão, agressivo e violento, que não aceitava o fato dele ser homossexual. Mais tarde, disse que esse irmão também tinha mania de perseguição. Pouco tempo antes, seu outro irmão havia matado o pai a facadas, foi preso e morreu na prisão. Ao contar esse fato tentou justificar o irmão dizendo que o pai era muito ausente. Durante a internação, ao lembrar-se de conhecidos que também se afastaram da família e acabaram se matando, voltou a procurar seus familiares e, após a alta, voltou para a casa de sua mãe.

A discussão centrou-se no esmiuçamento do funcionamento psicodinâmico do paciente, que estruturou um funcionamento obsessivo (deslocamento do afeto, ambivalência e repressão da agressividade) para lidar com sua própria agressividade e violência, e empregava a intelectualização e a idealização para seduzir e dominar o interlocutor. Também utilizava uma poderosa defesa maníaca para evitar entrar em contato com a realidade da patologia familiar e própria, principalmente sua identificação com o irmão, que realizou o crime edípico de assassinar o próprio pai. A reunião foi finalizada após o debate sobre os limites terapêuticos do caso.

retorna