Centro de Medicina Psicossomática e Psicologia Médica
Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro

Resumo de Reunião Clínica
 
 Data Supervisor
13.12.2007 Dr. Giorgio Trotto

Um homem de quase trinta anos, solteiro e vivendo com os pais, foi internado com um quadro de cefaléia intensa, vômitos incoercíveis e amaurose total, com início há dois anos. Passou por vários hospitais antes de conseguir se internar na Santa Casa aonde foi diagnosticado um astrocitoma localizado no cerebelo que estava comprimido um dos ventrículos cerebrais provocando hipertensão intracraniana e os sintomas já relatados. Permaneceu internado a maior parte do tempo acompanhado pelo pai, que o ajudava em tudo e também servia de intermediário junto à equipe.
Criança tímida e retraída, não conseguiu se desenvolver nos estudos. No início da adolescência apresentou uma mudança comportamental: pintava os cabelos de cores variadas e vivia mais na rua do que em cada até contrair sífilis, depois do que voltou a se retrair. Também não conseguiu desenvolver-se profissionalmente e passava a maior parte do tempo desenhando revistas em quadrinhos de super-heróis e sonhando em ser um desses desenhistas. Sentia-se muito culpado por ter adoecido e atribuía tudo de ruim acontecido na sua vida a não ter escutado os bons conselhos dos pais e a ter deixado de ir à igreja com eles. Ficou muito decepcionado por não ter recuperado a visão após a cirurgia conforme esperava.

A partir da constatação de que o paciente não tinha nenhuma consciência da sua doença e do respectivo

prognóstico discutiu-se, inicialmente, o preparo pré-operatório dele. Este preparo visa a diminuição das fantasias

que o paciente tem sobre a sua doença as quais, em virtude do quadro regressivo que comumente acompanha as

doenças orgânicas, costuma engendrar uma visão catastrófica da doença.  A diminuição das fantasias leva a uma

diminuição do estresse pré e per-operatório. Nesse preparo deve-se também, e na medida das possibilidades do

paciente, conversar sobre o procedimento cirúrgico a que ele vai se submeter e o respectivo prognóstico.

Os familiares também devem ser devidamente preparados. Assim, diminui-se o risco de desilusão, decepção e

depressão iatrogência no pós-operatório.

Outro ponto discutido foi a importância do terapeuta servir de olhos para o paciente, funcionando como uma prótese

sensorial que pode ajudar  na organização do espaço terapêutico.
A reunião foi finalizada com a discussão sobre a psicodinâmica castradora em que o paciente viveu sua vida inteira,

formada a partir da confluência da passividade dele, uma mãe rígida e dominadora e um pai infantilizador, e que o

deixou com a sensação de que algo nele não se desenvolveu.

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