Resumo de Reunião Clínica
 

Um homem de pouco mais de trinta anos, solteiro e morando com a mãe, sem profissão e sem nunca ter trabalhado, foi internado para tratamento de bronquite asmática e dermatite. Apresenta crises de bronquite asmática desde a mais tenra infância sem nunca ter ao menos melhorado, apesar dos inúmeros tratamentos. Tem apenas um irmão, esquizofrênico desde pequeno e que vive com o pai. Acha que é um doente incurável e há muitos anos desistiu de ter uma vida normal. Responsabiliza o pai por sua doença e por suas dificuldades com a vida. Disse ter sido internado desta vez para dar um descanso ao pai, que o leva para hospital todos os dias e fala já não estar mais agüentando. Estabeleceu uma relação ambivalente com a equipe da enfermaria: ao mesmo tempo em que dizia querer melhorar, reclamava do tratamento que recebia e repetia que, como os demais, esse também não estava adiantando nada. Recebeu a psicóloga da mesma forma: no início do acompanhamento disse várias vezes que o mesmo não iria adiantar nada e que não queria conversar. Saiu de alta após dez dias de internação com melhora do seu quadro clínico.

Na discussão do caso foi lembrado que a asma brônquica vem sendo estudada pela medicina psicossomática desde Franz Alexander (1891–1964), psicanalista húngaro radicado nos EEUU onde fundou o Instituto de Psicanálise de Chicago e liderou o grupo de psicanalistas que iniciou a pesquisa psicanalítica das doenças somáticas, conhecido como a Escola Psicossomática de Chicago. Em seguida, foi discutido o empenho do paciente em induzir rejeição e o papel defensivo dos sintomas funcionais no sentido da manutenção de vínculos geradores de espaço de segurança, havendo sempre risco de desestabilização e piora do quadro com a eliminação desses sintomas. No caso apresentado, o paciente se mantinha vinculado à família através da doença. A preocupação da psicóloga em manter um estreito diálogo com o médico assistente a fim de evitar o risco da rejeição induzida pelo paciente e a relação direta e não estereotipada que ela estabeleceu com ele contribuíram para a criação do espaço de segurança necessário para a diminuição do estresse e, conseqüentemente, da secreção brônquica, com melhora do quadro clínico.

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