Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase sessenta anos foi internada com dor abdominal, náusea e emagrecimento. Muito chorosa, estava sempre falando da difícil vida que teve: perdeu o pai aos quatro anos e, por razões econômicas, foi entregue a outra família onde foi “criada” trabalhando como empregada doméstica, casada duas vezes com maridos alcoólatras, o primeiro também fisicamente violento, perdeu um filho adolescente num duvidoso acidente com arma alguns meses depois de perder a própria mãe. Os primeiros exames complementares não evidenciaram nenhuma alteração orgânica e a equipe começou a considerar o caso como uma doença funcional provavelmente associada à depressão e iniciaram medicação antidepressiva. Quando os exames mais específicos revelaram câncer de pâncreas inoperável a equipe desanimou e o trabalho de alta foi imediatamente iniciado.

A discussãogirou em torno da atitude terapêutica diante de pacientes graves. Na perspectiva da Psicologia Médica, o tratamento da paciente em questão teve duas fases: na primeira, quando a hipótese diagnóstica apontava para um fator psicológico, o foco foi o luto patológico da paciente; na segunda, quando os exames revelaram o câncer inoperável e a equipe desanimou, o foco deveria ter sido o luto da equipe. Em seguida, abordou-se a psicodinâmica da paciente: o luto patológico e a revisão melancólica que estava fazendo da sua vida, ambos associados a existência de sentimentos agressivos inconscientes, o que sempre dificulta a elaboração das perdas.