Resumo de Reunião Clínica
 

 

Uma mulher de pouco mais de cinquenta anos, obesa, de aparência cansada e envelhecida, separada e mãe de um filho já rapaz, foi internada para se submeter a uma colecistectomia devido a litíase biliar. Em tom de derrota, contou uma história de perdas e fracassos: largou sua profissão para trabalhar no comércio com o marido, o comércio faliu, o marido a deixou, recomeçou a vida como vendedora, foi assaltada, perdeu tudo novamente e passou a viver, com seu filho, em um quarto alugado na casa de uma amiga. Nunca teve bom relacionamento com seus familiares devido a intrigas e conflitos. Com a vinda para o hospital, seu filho foi morar com o pai, está com a impressão de que a amiga não a quer de volta e não sabe onde irá morar após a alta. Não soube precisar as circunstâncias do seu adoecimento. Disse que as crises de cálculo biliar sempre existiram, mas se tornaram mais freqüentes após o término de seu casamento. Disse também que sempre se ressentiu das pessoas porque sempre sentiu que dava mais do que recebia. Entrou em depressão após a separação conjugal e chegou a tentar contra a própria vida. Ainda hoje pensa na morte e disse não ter medo de morrer na cirurgia.

 

A discussão girou em torno do tipo de trabalho psicológico que o preparo pré-operatório deste tipo de paciente exige. Foi ressaltado o risco de indução iatrogência que a paciente apresentava para a equipe devido aos traços depressivos e paranóides de sua personalidade, e foi comentado que este é mais um caso de síndrome de eutanásia.