Resumo de Reunião Clínica
 

Um homem de pouco mais de 60 anos, casado e com filhos, operado com sucesso e considerado curado de um câncer de intestino há 7 anos, procurou espontaneamente a enfermaria querendo ser internado e queixando-se de emagrecimento, dores abdominais e lombares. Ficou internado por 2 meses, foi submetido a uma série de exames e nada encontrado que justificasse suas queixas e internação. Ficou internado para recuperação ponderal e o acompanhamento pela equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria foi solicitado porque o paciente insistia em ter uma doença orgânica e não demonstrava nenhuma vontade em sair de alta, embora se queixasse muito da qualidade da alimentação e não se alimentasse nada bem, razão da internação. Após 1 mês de alta, voltou a procurar espontaneamente a enfermaria para ser reinternado e o conseguiu após grande insistência. Suas queixas eram as mesmas e seu comportamento na enfermaria foi o mesmo: queixava-se do abandono de seus familiares e da alimentação, que quase não conseguia ingerir. Apesar das mudanças na qualidade dos alimentos e na procedência da alimentação, o paciente continuou se alimentando cada vez pior. Por vezes provocava vômitos após conseguir ingerir uma parte de uma refeição e seu quadro clínico de desnutrição foi se agravando, embora nada fosse encontrado em seus exames.
A
única pessoa que o visitava com regularidade era uma de suas filhas, que sentia-se muito mal com a situação do pai: desempregado há 2 anos, vivendo com seus familiares, embora maritalmente separado de sua esposa vários anos e quase sem falar com os filhos. Vivia praticamente isolado e com muitas queixas de todos. O paciente sempre foi pessoa de pouquíssimos amigos e distante do convívio familiar. Pouco se envolvia com a dinâmica familiar por acreditar que o manejo da casa e a criação dos filhos eram funções da esposa. Logo após casar foi trabalhar em uma cidade bem distante de onde a família residia e a eles se reuniu quando foi despedido muitos anos depois. O próprio paciente dizia que não havia conseguido se recuperar desta demissão. Pouco tempo depois afastou-se novamente dos familiares para cuidar da mãe enferma em outra cidade, que acabou falecendo 1ou 2 anos depois. Esta filha foi a única a acompanhar o agravamento do estado de saúde do pai e o fracasso da equipe de saúde em reverter a situação. O paciente acabou falecendo após quase 1 mês de internação.

A discussão se iniciou pelo diagnóstico psicodinâmico do quadro de desistência do paciente associado a uma reação resignada, iatrogênicamente induzida pelo paciente na equipe de saúde, configurando aquilo que Abram Eksterman chama de síndrome de eutanásia.
Em seguida, foi discutido o tipo de intervenção psicológica a ser empregada nestas situações: deve-se tentar estimular o paciente à vida ou enfrentar o desejo dele morrer, com seus aspectos agressivos e destrutivos dissimulados?
A
reunião foi encerrada com a discussão sobre a importância do diagnóstico fenomenológico e do uso associado de outros instrumentos terapêuticos como a medicação anti-depressiva e a eletroconvulsoterapia nos casos extremos.

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