Resumo de Reunião Clínica
 

Um homem de pouco mais de 30 anos, proveniente do ambulatório, foi internado devido a uma significativa perda ponderal. Há alguns anos vem fazendo, inicialmente de forma irregular, tratamento para AIDS, que contraiu num breve relacionamento extra-conjugal iniciado pouco tempo antes de sua esposa falecer num acidente automobilístico, ocorrido há quase 7 anos. A perda foi de tal ordem que não conseguiu cuidar de sua única filha, que é criada pela avó materna. Soube de sua doença de  maneira inesperada ao fazer um rotineiro exame de sangue alguns poucos anos. Seu quadro vem piorando significativamente, não mais conseguindo se recuperar plenamente entre as internações, que estão se sucedendo cada vez com mais freqüência.
Na
enfermaria, inicialmente, preferia ficar deitado em seu leito, todo coberto e virado para a parede. Seu estado de humor era de desânimo e desesperança. Não recebia visitas e, pelo que dizia, vivia quase recluso em sua casa. A única pessoa com quem ainda mantém um vínculo afetivo, bastante intenso por sinal, é sua filha. Mas, quase não mais a visita porque não quer que ela o veja doente. Dizia ter dificuldades em se ver tão emagrecido e doente porque sempre foi um homem muito forte; tendo sempre praticado musculação, não acreditava que pudesse vir a adoecer.

A discussão girou em torno dos objetivos terapêuticos e da estratégia clínica a seguir com este paciente, cuja adesão ao tratamento é tênue devido à proximidade da morte e à maneira que vive sua doença, além do fato de ter tido perdas importantes nos últimos anos de sua vida. Outros elementos psicodinâmicos como o agravamento de sua doença, o medo da estigmatização alheia, tão forte quanto a dele mesmo e a ferida narcísica por ter adoecido, gerando uma forte vergonha que o afasta do convívio com as pessoas, levando-o a romper quase todos seus vínculos afetivos e gerando isolamento e desesperança, também foram abordados.
Finalmente, o último elemento psicodinâmico presente no caso a ser abordado foi o
luto não completado da esposa, fator culpabilizante que contribui ainda mais para o paciente sentir-se sem esperança e perto da morte. deste quadro, houve consenso em torno do objetivo de reforçar o vínculo do paciente com sua filha como único fator capaz de diminuir a situação de isolamento do paciente e de desesperança por possibilitar a continuidade dele na lembrança da filha.

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