Resumo de Reunião Clínica
 
Um homem de quase 60 anos, em tratamento ambulatorial de AIDS, já com sarcoma de Kaposi e uma importante anemia, abordou um dos membros da equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria. Muito angustiado desde que soube seu diagnóstico, solicitou atendimento ambulatorial, mas acabou sendo intertnado no dia seguinte. O paciente informou que começou a sentir os primeiros sintomas de sua doença há 1 ano e, desde então, vem fazendo uso da medicação sem nenhuma melhora.
Seu pai, homem muito mulherengo e homofóbico, abandonou a casa por outra mulher quando o paciente estava com 3 anos. Teve 20 filhos com várias mulheres, sendo 2 homossexuais como o paciente. Guarda muita raiva e ressentimento do pai, de quem soube do falecimento 2 anos depois do fato ter ocorrido. O único encontro que tiveram depois que o pai saiu de casa ocorreu por iniciativa paterna poucos meses antes do paciente "descobrir-se" homossexual, aos 19 anos. A mãe teve mais 2 casamentos, nos quais sempre foi maltratada. Assim que pôde, o paciente passou a sustentá-la. Seu maior sofrimento é pensar na mãe sem ele para ampará-la e sustentá-la.

A discussão foi iniciada com a constatação da presença marcante da angústia de morte durante todo o atendimento. Debateu-se a psicodinâmica do paciente, marcada por uma intensa identificação patológica com o pai: comporta-se como se fosse o pai, sustentando a mãe e, ao mesmo tempo, se torna o que o pai mais odeia. Contraindo a AIDS está caminhando para matar o pai que tanto odeia, mas com quem está inconscientemente identificado. Procedeu-se à distinção entre identificação saudável e patológica, ambas relacionadas como o processo de simbolização. Após ter sido discutido o objetivo da Psicologia Médica neste caso, qual seja interromper esta identificação mórbida através da migração do objeto interno do processo primário para o processo secundário de pensar, isto é, da fantasia para a consciência , a reunião foi encerrada com algumas questões sobre a relação do paciente com sua mãe.