Resumo de Reunião Clínica
 

Um homem de pouco mais de 30 anos, casado há 5 anos, foi internado para tratamento de pênfigo vulgar. Único filho homem, não conheceu o pai e foi criado pelos avós, trabalhando com eles na lavoura desde pequeno enquanto a mãe trabalhava e vivia na cidade com suas irmãs. As primeiras lesões surgiram há ano e meio, logo depois de mudar-se para um apartamento maior, deixando de morar com sua sogra. Na época, iniciou tratamento ambulatorial com corticóide e sofria muito com os comentários dos amigos a cerca de suas lesões e do fato de estar engordando. As lesões continuaram se expandindo, mesmo com o tratamento, e ao dar entrada na enfermaria seu corpo estava todo tomado de feridas. Durante a internação mostrou-se, inicialmente, muito preocupado com sua doença e com medo de morrer. Esteve constantemente preocupado com o fato de sua esposa estar sozinha em casa e fez alusões a estar falhando com ela.

A discussão do caso foi inicada com uma explanação médica sobre pênfigo vulgar, doença dermatológica de origem auto-imune. Em seguida, foi lembrado que em nosso trabalho de oito anos na enfermaria de dermatologia temos encontrado, quase invariavelmente, uma íntima relação entre certas doenças dermatológicas - psoríase, vitiligo, prurido generalizado, eczema e alopécia - e dificuldades psicológicas na passagem da sexualidade infantil para a adulta. Este é o primeiro caso de pênfigo vulgar em que se pode observar a mesma psicodinâmica, pois o paciente adoeceu ao separar-se da sogra e poder passar a viver com a mulher. Também neste caso a crise biológica mostra uma intensa relação com a crise existencial pela qual o paciente está passando.
A
reunião foi encerrada fazendo-se uma avaliação do trabalho da Psicologia Médica com este paciente: conseguiu-se dissolver o medo que ele estava de morrer e aumentar sua confiança na equipe médica, mas quase nada foi conseguido em relação ao medo de perder a mulher. Em relação a este último tópico, debateu-se o sentido das dificuldades matrimoniais que o paciente fez referência em seus encontros com o membro da equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria e, levando-se em conta o colorido erótico que o paciente imprimiu ao vínculo terapêutico, ponderou-se se ao mostrar receio em deixar a mulher sozinha e ao expressar estar falhando com a mulher, o paciente não estaria fazendo alusão a dificuldades sexuais com sua esposa.

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