Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase 50 anos foi internada devido a reagudização do seu quadro de retocolite ulcerativa. Paciente poliqueixosa, com várias internações anteriores, relatou diversas evacuações sanguinolentas por dia acompanhadas de dores abdominais, tremores nos músculos dos braços, dores nos cotovelos, nos ombros, no peito e na cabeça. Embora venha se tratando há vários anos, há mais de 5 em um dos ambulatórios do Hospital Geral da Santa Casa de Misericórdia, até hoje desconfia que os médicos a estão enganando, escondendo o diagnóstico de sua verdadeira doença, muito mais grave do que a que tem. Paradoxalmente, até hoje não se deu conta da gravidade de sua doença. Contou que fica muito nervosa quando está sozinha e que sente-se muito isolada. Aos sete anos enfiou a cabeça numa máquina de fazer tijolos, permanecendo internada por quase um ano, no fim do qual foi dito a seus pais que ela não mais conseguiria estudar sozinha. Foi retirada da escola, sucederam episódios de agressividade, num dos quais feriu seu irmão com uma lâmina de barbear, e acabou sendo isolada de seus irmãos também por recomendação médica. Aos vinte e sete anos, sem nenhuma causa aparente, sofreu queda da maca enquanto aguardava a hora de ir para a sala de parto submeter-se à cesareana de seu terceiro filho. O filho foi salvo, mas foi preciso fazer uma histerectomia na paciente. O foco do atendimento psicológico foi a dificuldade da paciente ficar sozinha e o papel desta problemática na agudização do quadro clínico. Em algumas semanas a paciente melhorou sem nenhuma medicação específica, mas retornou com nova reagudização de seu quadro um mês depois.

A discussão foi iniciada lembrando-se que a retocolite ulcerativa, a asma brônquica, a úlcera péptica e algumas dermatoses como a psoríase, a alopécia, o pruridro generalizado e o vitiligo, estão entre as doenças psicossomáticas mais bem estudadas.
Em relação ao caso apresentado, foi constatado ser este mais um exemplo de retocolite em paciente com história de agressividade. Foram discutidos tanto os aspectos instintivos da agressividade, sua relação com a destrutividade e a pulsão de morte, quanto a relação da agressividade com fatores ambientais. Foi ressaltado que a instabilidade, tanto interna quanto externa, pode engendrar situações de desespero, que costumam desencadear reações agressivas. Patologias na construção do vínculo diádico constumam engendrar este tipo de instabilidade. Finalizou-se a reunião discutindo-se a estratégia terapêutica para esses casos.

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