Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de quase 60 anos foi internada com insuficiência cardíaca congestiva grave e descompensada. Nasceu com uma mal formação em um dos membros inferiores e outra no coração. Permaneceu internada durante quatro anos de sua infância para submeter-se a várias cirurgias para correção do defeito ortopédico, mas nunca aceitou ser operada para corrigir o problema cardíaco por temer morrer na cirurgia, como ocorreu com seu pai quando ainda era criança. Devido à doença cardíaca, é magra, franzina, não parecendo ter a idade que tem. Surpreendentemente, ultrapassou a média de vida dos portadores de sua condição cardíaca congênita, que é de duas a três décadas de vida. No momento, seu caso não pode mais ser resolvido cirurgicamente e sua doença já está muito avançada, praticamente fora de condições terapêuticas. Além de apresentar freqüentes episódios de hemoptise, fica dispnêica aos mínimos esforços, o que tem limitado muito sua vida. Casada duas vezes, teve apenas uma filha que faleceu de câncer uterino há quatro anos. Perdeu a mãe há três anos.

A discussão do caso foi inicada pelo esmiuçamento das experiências de vida da paciente, todas envolvendo muito sofrimento físico e perdas afetivas importantes. Em seguida, foi assinalado que a internação atual poderia estar sendo vivida como uma repetição da internação ocorrida na infância. Finalmente, discutiu-se a necessidade de se ajudar os pacientes terminais a se despedirem da vida e a comum dificuldade dos profissionais de saúde fazerem este trabalho. Ressaltou-se que isso se deve, em grande medida, à dificuldade que todos temos em pensar na própria morte, o que sempre acontece quando lidamos com a morte de alguém.

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