Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de pouco mais de 40 anos internou-se por apresentar lesões avermelhadas nos membros inferiores, na face e nas costas, há mais de 7 anos, com períodos de melhora e piora. Durante o acompanhamento por um dos membros da equipe de Psicologia Médica do C.M.P. associada à enfermaria, contou ter tido um pai violento e revelou ter sido vítima de dois estupros no início da adolescência. Casou-se aos quinze anos e separou-se, com uma filha ainda bebê, após várias traições do marido. Casou-se novamente com um homem muito mais velho, com quem vive há mais de vinte anos, para que a filha pudesse ter um pai e ela tivesse alguém para ampará-la. Vive um momento de crise conjugal na qual tem muitas queixas do marido e, inconscientemente, deseja livrar-se dele por ver nele muitas semelhanças com seu próprio pai.  
Durante a internação, a equipe médica não conseguiu fechar um diagnóstico. Como suas lesões apresentavam aspectos inflamatórios crônicos, com algumas características de sarcoidose, ficou-se com esta hipótese. Permaneceu internada por três semanas e melhorou apenas com vitaminas e o acompanhamento psicológico, o qual está dando continuidade após a alta médica.

A discussão foi iniciada ressaltando-se ser este mais um caso de doença dermatológica intimamente relacionada com dificuldades na esfera da sexualidade. O caso mostra uma clara relação entre a revolta inconsciente da paciente com as figuras masculinas e o trauma psicológico que foi vítima. Ainda neste tema, foi observado que o próprio trauma psicológico na área da sexualidade pode servir como elemento defensivo contra os desejos e sentimentos inconscientes relacionados com a sexualidade. No caso em discussão, foi apontado que a lembrança do trauma também estaria funcionando como uma lembrança encobridora, que mantém inconsciente os desejos eróticos, potencialmente culpabilizantes, relacionados com a própria experiência traumática.
Em relação aos objetivos do trabalho da Psicologia Médica neste caso, foi apontado que além de ajudar a paciente a elaborar a situação traumática que viveu e seu problema conjugal, o atendimento serviu também para evitar que a hostilidade da paciente contra as figuras masculinas fosse transferida para a figura de seu médico, o que poderia ter uma influência deletéria para o tratamento.

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