Resumo de Reunião Clínica |
Uma mulher de quase 50 anos, casada e sem filhos, foi internada para se submeter a uma tireoidectomia parcial por ser portadora de nódulos na tireóide. Não foi sua primeira internação na enfermaria. Há alguns anos submeteu-se a uma retirada de um mioma, que foi vivida com muita ansiedade e apreensão por ter tido a fantasia de que ficaria oca por dentro, e foi atendida pela equipe de Psicologia Médica associada à enfermaria. Assim que viu uma das psicólogas da equipe tomou a iniciativa de solicitar atendimento. Suas feições denotavam cansaço e tensão. Estava, inicialmente, muito chateada e falando mal da equipe cirúrgica porque acabara de saber que teria que repetir os exames pré-operatórios. Logo em seguida abriu a situação difícil que estava vivendo em sua casa. Após a morte do pai, com quem tinha uma ligação muito forte, assumiu a “obrigação” de cuidar da mãe e de sustentar uma irmã, o que era motivo de grande insatisfação por parte do marido. Por outro lado, achava o marido muito parecido com o próprio pai: ambos tinham vícios: o pai, de beber; o marido, de jogar. Com apenas três atendimentos a paciente ficou mais confiante na equipe médica e mais tranqüila com a cirurgia.
A discussão foi iniciada com o exame do tipo de relação
que a paciente havia estabelecido com a equipe da enfermaria. A
experiência de castração vivida
na primeira cirurgia e as ásperas críticas formuladas contra a equipe
cirúrgica quando se internou eram indicadores de que a paciente havia
estabelecido uma relação baseada na castração: ela tentando castrar os
médicos e vivendo a ação médica como uma resposta castradora aos seus
impulsos. Discutiu-se os possíveis riscos decorrentes desta situação
psicodinâmica diante de uma
cirurgia e foi assinalado que o diagnóstico psicodinâmico
do tipo de
relação que se estabelece entre paciente e equipe da enfermaria é o eixo
do trabalho de Psicologia Médica
por revelar a irracionalidade presente no campo terapêutico. |