Uma mulher de pouco mais de 50 anos foi internada para retirada da vesícula biliar (colecistectomia) devido à presença de cálculos biliares (colelitíase). A sua postura passiva e fatalista diante dos fatos da vida, "tudo entregando nas mãos de Deus", era marcante e presente desde sua separação conjugal, há mais de 10 anos. Seu estado de ânimo era depressivo e idéias agourentas estavam  presentes em sua fala em decorrência de um desejo inconsciente de morrer, que foi o foco do atendimento da Psicologa Médica. Com o evoluir do trabalho psicológico deste material, a paciente pôde relatar ter feito algumas tentativas de suicidio após a separação conjugal. A paciente foi operada com sucesso e o pós-operatório transcorreu sem complicações

A discussão foi iniciada com o aprofundamento teórico sobre a escolha, corretamente feita, do foco da atenção psicológica deste caso. Foi ressaltado que o impacto emocional acarretado por este tipo de tema costuma provocar no terapeuta reações de “apoio”, isto é, estímulos pseudo-psicológicos para que o paciente passe a gostar da vida ou, então, veja as coisas de forma diferente. Frisou-se que essas técnicas de apaziguamento são totalmente ineficazes. A importância do terapeuta entrar no tema do paciente reside no fato de que a ação psicológica eficaz para diminuir este tipo de tensão interna está em ajudar o paciente a falar do assunto porque assim transporta-se o material do processo primário para o processo secundário de pensar. Essa é a base de toda transformação psíquica e da ampliação da consciência.
Outro ponto abordado na discussão foi o estado depressivo da paciente: um quadro de luto patológico aberto com a separação conjugal e possivelmente relacionado com perdas importantes no passado da paciente.
A reunião foi encerrada com uma discussão sobre o papel psicológico das figuras divinas e das figuras diabólicas.