Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de 39 anos, casada, veio encaminhada de outro hospital investigar “crises” de desmaio. O exame clínico e os exames complementares (de imagem e eletreoencefalograma) não evidenciaram nenhum sinal de comicialidade. Foi encaminhada para tratamento psicológico em regime ambulatorial.
Filha caçula de mãe alcoólatra, sofreu maus tratos físicos e psicológicos desde muito pequena. Perdeu o pai (cancer) aos 8 anos, quando, então, o uso de bebidas alcoólicas e os maus tratos da mãe pioraram. Iniciou vida sexual muito cedo (8 anos), sempre acompanhada de violência e outros tipos de perversões. Sempre foi muito agressiva e impulsiva. Há aproximadamente 1 ano, junto com o adoecimento de sua mãe (demência alcoólica), começou a apresentar episódios de desmaios e iniciou tratamento com medicação anti-convulsivante sem sucesso. Depois que começou a freqüentar uma igreja evangélica conseguiu controlar melhor seu comportamento agressivo-impulsivo.

Iniciou-se a discussão pelos diagnósticos diferenciais entre crise epiléptica e crise conversiva, epilepsia e histeria. Examinou-se detidamente as características psicopatológicas e psicodinâmicas da paciente chegando-se à conclusão de não ser um simples caso de histeria, na medida em que a atividade sexual sempre esteve contaminada por perversões e os valores éticos e morais não foram devidamente construídos.
A discussão encaminhou-se para a condução do tratamento psicológico deste tipo de paciente em um ambulatorio de atendimento de massa. Discutiu-se se o tratamento  dessa paciente deveria seguir o parâmetro psicanalítico ou se o objetivo do mesmo deveria se limitar à cura da sintomatologia que levou à procura do atendimento em virtude do risco de cronificação que tratamentos longos apresentam e dos limites assistenciais presentes na instituição. Utilizando-se a compreensão psicodinâmica, pode-se entender que a identificação inconsciente da paciente com a mãe apresenta um duplo viés:
- O surgimento da sintomatologia denuncia a dificuldade da paciente elaborar a perda da mãe, caracterizando o início de um quadro de luto patológico, que sabidamente se relaciona com a perda de pessoas com as quais há presença de conflitos reprimidos, e cuja defesa é a identificação com o objeto que está sendo perdido;
- As crises de desmaio da paciente poderiam ser entendidas como encenações de pequenas mortes, o que parece corresponder ao desejo da mãe em relação a ela: a paciente não deveria ter nascido, portanto deveria morrer.
Assim, através da diminuição da identificação da paciente com a mãe poderia-se alcançar a cura sintomatológica.

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