Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de pouco mais de 60 anos, internada com o diagnóstico de pênfigo vulgar, doença auto-imune, iniciou acompanhamento psicológico com equipe de Psicologia Médica do C.M.P. associada a esta enfermaria por solicitação do médico que a internou. A paciente estava muito nervosa ao ser internada, não querendo ficar sem acompanhante na enfermaria. Ao iniciar os atendimentos, a paciente contou que sua doença começou a aparecer na mesma época em que seu filho mais velho foi vítima de um assalto e o mais novo começou a falar que iria sair de casa para se casar. Desde pequena sonhava em ajudar a mãe e os irmãos, inicialmente por conta das brigas provocadas pelo pai, alcoólatra, e depois devido à pobreza em que viviam. Ao casar trouxe a mãe, já viúva, e seus irmãos para morarem com ela. Perdeu a mãe há mais há 2 anos. Dizia ter uma vida perfeita e sem problemas, exceto por ter umas visões de quando em vez e um certo medo e desconfiaça em relação às pessoas. Embora atenciosa e parecendo sempre disposta a conversar, não se aprofundava em nada, mesmo quando estimulada pela terapeuta. Em virtude da gravidade de sua doença, foi-lhe prescrito tratamento venoso com corticóides em altas doses, que surtiu efeito e a paciente começou a melhorar rapidamente. Após 2 semanas de tratamento, a terapeuta começou a notar uma certa exaltação no humor da paciente, que a tornou quase eufórica. Para evitar o risco de infeção hospitalar, comum em pacientes que usam drogas imunossupressoras como são os corticóides, a equipe deu alta para a paciente assim julgou possível, mesmo antes da remissão total da sintomatologia. A paciente mantém-se em tratamento ambulatorial.

A discussão foi inicada com a exposição, feita pelo chefe da enfermaria, sobre a doença da paciente e o tipo de tratamento efetuado. Em seguida, foi ressaltada a freqüência em que se observa a relação entre a eclosão de uma doença dermatológica e situações de vida que envolvem uma ruptura abrupta de um vínculo simbiótico, como no caso presente entre a paciente e seus filhos, ou, então, com dificuldades na área da sexualidade, como em diversos casos já apresentados pela unidade de Psicologia Médica do CMP associada ao Serviço de Dermatologia.
Discutiu-se também a possibilidade do quadro de exaltação do humor apresentado pela paciente ter sido desencadeado pelo uso de corticóides. É fato conhecido pelos psiquiatras que este tipo de medicação pode induzir a quadros de confusão mental, psicoses francas e a exaltação do humor. Como este tipo de efeito colateral não ocorre com todos os pacientes que estão usando esta medicação, levantou-se a questão da predisposição individual a esses efeitos. Confirmando esta hipótese, no caso em questão, a paciente havia relatado experiências de cunho psicótico (visões e sentimentos persecutórios) antes de fazer uso da medicação.
A gravidade do caso, tanto orgânica quanto mental, instigou uma ampla discussão a respeito das possíveis estratégias terapêuticas e sobre a condução do acompanhamento psicológico, mas que não pôde ser aprofundada pelo adiantado da hora.

retorna