Resumo de Reunião Clínica
 

Uma jovem mulher de menos de 30 anos, portadora de doença de Parkinson, foi internada para investigar porque o tratamento ambulatorial não estava surtindo o efeito esperado. Havia fortes suspeitas de que ela não estava seguindo as orientações devidamente. Mostrou-se inicialmente muito resistente ao acompanhamento psicológico feito por um membro da equipe de Psicologia Médica do CMP associada à enfermaria, que logo constatou a difícil relação entre mãe e filha. As duas pareciam formar uma dupla que se complementava: enquanto a mãe era uma pessoa dominadora e excessivamente presente, chegando até a interferir nas consultas e no tratamento, a filha parecia não se interessar por nada. Quanto mais a filha não reagia ao tratamento, mais a mãe reclamava do esforço que era para ela “carregar” a filha para tudo.
Embora a paciente começasse a dar sinais de melhora, a idéia da cirurgia surgiu sem saber-se direito se a partir da mãe ou da filha. Contrariamente à orientação do médico assistente a paciente submeteu-se a duas cirurgias num período de três meses, ambas com sucesso bastante relativo: a primeira deixou-a assintomática por dois meses, depois do que a paciente apresentou um forte rebote sintomatológico, e a segunda cirurgia quase nada conseguiu remitir da sintomatologia.
Muito embora a paciente estivesse começando lentamente a dar sinais de adesão ao acompanhamento psicológico, acabou sendo encaminhada para outra instituição onde lhe foi indicado acompanhamento familiar, o qual a paciente nunca aceitou e não comparece às consultas, enquanto que a mãe o freqüenta com assiduidade com o pai e está gostando muito.
Recentemente, a paciente acabou voltando a fazer tratamento ambulatorial em nosso hospital e conjectura-se sobre a possibilidade dela voltar também ao acompanhamento psicológico.

Partindo-se da premissa de que o objetivo da Psicologia Médica com esta paciente seria aumentar a adesão dela ao tratamento, discutiu-se com profunidade como isto poderia ter sido feito. A compreensão psicodinâmica do caso evidenciou a forte presença mental de uma mãe ambivalente, inconscientemente filicida, e uma intensa culpa edípica, que se expressava por um atitudes inconscientes de indução iatrogência em relação à equipe, a qual não conseguiu evitar de reagir de acordo com o que lhe era induzido e assim realizou cirurgias de indicações discutíveis e encaminhou a paciente para tratamento psicológico em outra instituição.

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