Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de 44 anos, casada, mãe de duas filhas, foi internada com intenso tremor, rigidez em seus quatro membros, dificuldades na deglutição e fala arrastada. Portadora de mal de Parkinson desde os 28 anos, foi internada para se submeter a neurocirurgia para diminuição da sintomatologia no dimídio direito, sendo que há 7 anos atrás submeteu-se à mesma ciururgia para diminuição da sintomatologia do lado esquerdo.
Acompanhada por um membro da unidade de Psicologia Médica do C.M.P. associada à equipe desta enfermaria, a paciente, inicialmente, não queria operar-se. Dizia estar sendo pressionada pelos familiares a se operar, sentia-se um peso para eles, achava que eles não estavam mais agüentando cuidar dela e, com muita facilidade, sentia-se abondonada, chegando a dizer que a filha que a estava acompanhando na enfermaria não devia gostar dela por estar conversando com outras pacientes. Revoltada com sua doença, dizia ter perdido tudo que tinha de bom na vida: sua juventude, sua beleza e a maternidade, pois não conseguiu ser mãe de suas filhas. Após um mes a paciente conseguiu aceitar ser operada e a cirurgia transcorreu sem complicações e foi um sucesso. A paciente recebeu alta com significativa melhora sintomatológica e orientada a continuar seu acompanhamento em regime ambulatorial. Já conseguiu vir andando à primeira consulta após a cirurgia.

A discussão foi iniciada assinalando-se que as doença crônicas costumam ser utilizadas pelos pacientes como justificativa para tudo. Assim, a paciente sentia-se plenamente justificada na sua postura de vitima, na sua desmedida exigência de atenção e na sua má-vontade com seus acompanhantes. Mesmo recebendo a atenção e o cuidado de seus familiares e da equipe de saúde, a paciente via rejeição em tudo e não se dava conta que sua postura com certeza acabaria induzindo as pessoas a se afastarem dela, fechando o círculo vicioso da vitimização.
Evidenciando-se o componente narcísico da personalidade da paciente, discutiu-se amplamente o tema da ferida narcísica decorrente de doenças crônicas.
Encerrou-se a discussão com a tema da dinâmica familiar de pacientes com doença crônica.

retorna