Resumo de Reunião Clínica
 

Uma senhora de 74 anos, internada por apresentar importante insuficiência cardíaca congestiva por insuficiência valvular há muitos anos, começou a ser atendida por um dos componentes da equipe de Psicologia Médica associada a esta enfermaria. Nos primeiros atendimentos a paciente mostrou-se muito otimista, às vezes em excesso, a ponto de chegar a dizer que “desde que me internei estou cada dia melhor”. Dias depois contou que perdeu sua mãe aos seis anos e três de seus irmãos morreram de doença cardíaca, mas “eu não tenho medo de morrer”. Como que para avisar sua dificuldade em se engajar no processo terapêutico, contou que teve um problema hepático para o qual precisou se operar, mas não deu continuidade ao tratamento. Com o passar dos dias, e o cateterismo cardíaco se aproximando, começou a pedir para ir embora, sempre dizendo que não tinha medo de morrer, “só tenho medo de enfiar aquele treco em mim”. Sempre negando o que parecia estar sentindo, e passado o cateterismo cardíaco, a paciente pareceu ter ficado chateada, mas dizia não reclamar de nada e passou a ter dificuldades de dormir. Passados 45 dias, a paciente continua internada e acompanhada pela Psicologia Médica.

A discussão foi iniciada ressaltando-se que abandonos e perdas precoces, como aconteceu com a paciente, costumam engendrar sentimentos de raiva quando a pessoa está em uma situação de dar o que não se recebeu. Em seguida, associando-se os pedidos de alta precoce formulados pela paciente, com a dificuldade dela se tratar e com a mudança no humor dela, o qual foi tornou-se irritável após a realização bem sucedida do cateterismo, formulou-se a hipótese da paciente não ter ficado satisfeita com o fato de ter sobrevivido ao exame.
Observou-se, ainda, que a paciente apresentava um pavor a qualquer tipo de exame. Em relação ao cateterismo cardíaco, como a qualquer tipo de procedimento terapêutico, deve sempre ser feita uma adequada orientação cognitiva a respeito do exame porque desfaz as fantasias associadas ao exame. Em relação ao exame de suas ansiedades, para o qual a paciente também apresentava um nítido pavor, frisou-se a importância do psicoterapeuta não ter como objetivo dissolver todas as defesas do paciente, pois nem todas são patológicas e também deve-se ter sensibilidade clínica para avaliar o quanto uma paciente como esta poderia aguentar. Além disso, no caso em pauta, o objetivo da Psicologia Médica não seria resolver a dificuldade da paciente entrar em contato com sua vida mental e os problemas existenciais dela, e sim ajudá-la a fazer o cateterismo cardíaco e a aderir ao tratamento, dando continuidade ao mesmo.
Entretanto, foi também lembrado que a terapia deve ajudar a paciente a elaborar as fantasias agressivas para que possa realizar os exames e procedimentos terapêuticos que lhe forem necessários na continuação de seu tratamento.

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