Resumo de Reunião Clínica
 

Uma mulher de 55 anos, nascida numa pequena cidade do interior nordestino, tendo começado a trabalhar já aos cinco anos para ajudar na sobrevivência da família, separada, de baixa estatura e corpulenta, chamava a atenção por sua aparência descuidada, pelo excesso de pelos em seu rosto, sempre despenteada e vestida com roupas velhas e fora de moda. Todo esse quadro piorava por conta do aspecto que a doença lhe conferia: a pele de todo o corpo muito ressecada, descamando continuamente e formando um depósito de fragmentos que se espalhavam por todo o ambiente. Casou-se aos 21 anos “sem saber o porquê”, teve 3 filhos e está separada há 3 anos. Viveu a separação como uma grande humilhação e desde então nunca mais se interessou em ter um companheiro. Embora soubesse das traições do marido e se sentisse só devido à falta de interesse pessoal e sexual dele, nunca pensara em separar-se.
Foi internada com o diagnóstico de eritrodermia esfoliativa por psoríase e teve cinco atendimentos com um dos membros da unidade de Psicologia Médica do C.M.P. integrada à equipe da enfermaria. Inicialmente relacionou o surgimento de sua doença com a primeira traição do marido, há 15 anos. De acordo com suas próprias palavras "depois disso nunca mais tive saúde". Nos primeiros atendimentos esteve sempre muito calada; na enfermaria era reservada, limitava-se a fazer o que lhe pediam sem questionar e sua expressão era entristecida. No primeiro atendimento seu tom de voz era quase inaudível e seu olhar manteve-se, por muito tempo, fixo em suas mãos. As conversas acabaram se encaminhando para as dificuldades dela com a sexualidade e, a partir deste ponto, seu comportamento mudou: ficou mais interessada, mais participativa na enfermaria e houve uma melhora significativa do seu quadro clínico. Revelou também que fora intimada a comparecer em Juízo por conta do pedido de divórcio do ex-marido poucos dias antes de se internar. Saiu de alta pensando em retomar sua vida afetiva e mais decidida a enfrentar o divórcio.

O primeiro tema a ser discutido foi a relação entre o aspecto repulsivo das doenças dermatológicas, a rejeição alheia, a auto e a hetero estigmatização. Em seguida passou-se a discutir a relação observada entre algumas doenças dermatológicas (psoríase, vitiligo, prurido e eczema) e a existência de uma incapacidade de elaborar a vida sexual. A freqüência com que a pele expressa falhas muito precoces no relacionamento mãe-bebê foi assinalada e foi ressaltado que estas falhas nas relações primitivas costumam induzir a um édipo precoce, o que é sempre potencialmente desorganizador para a mente. Encerrou-se a reunião com a discussão sobre o aspecto melancólico que a paciente apresentava.

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